A mocidade é como o vento que passa,
Como as nuvens constituídas de fumaça,
Que vão esvaindo para nunca mais voltar,
Quando é cheia de dor,
Mas acompanhada pelo amor,
Resta no fim um lenitivo para amenizar.
Ela pode ser destruída,
Quando de amor não é constituída,
E foi formada pela ilusão que desvanece.
Porque as palavras vãs ficam no esquecimento,
È como o fogo de palha que apaga no momento,
Quando não acendeu, com elementos que não aquece.
Mas quando ela vive de fé e amor,
Persiste em todo o momento de dor,
Em que nada faça apagar a chama.
Porque se num sentimento mútuo foi formada,
Ficando numa massa concreta realizada,
Não são mais dois, mas um ser que ama.
Entre dois afetos, quando a mocidade foi construída,
Nem o revés da vida; nem a dor, deixa destruída,
A existência que passou, e ficou como a rocha do oceano.
Ficou apenas mais polida,
Aquela chama que alimentou a vida,
E não foi destruído pelo desengano.
O amor que tem sua origem divina,
Guardando na alma onde confina,
Para sempre como um tesouro.
Fica eternamente no estado primitivo,
Se mutuamente conservarem vivo,
Sua validade é mais que o fino ouro.
E foi assim nossa mocidade, querida,
Dela, nada perdermos na vida,
Porque foi como uma peça conjugada.
De todos os anos que passou,
Muito ainda restou,
Nossa velhice irmanada.
Ulysses Melges – Lins, novembro de 1984.